A abertura de 2025 trouxe um cenário inflacionário bem mais elevado do que o observado nos anos anteriores, com destaque para o reajuste autorizado para os medicamentos. O aumento foi de 4,5% em 2024, e para este ano, o teto autorizado é de 5,06%. Esse aumento reflete, além da inflação geral, o aumento dos custos de produção, distribuição e matéria-prima do setor farmacêutico, o que levanta preocupações para médicos e pacientes, especialmente os mais vulneráveis economicamente.
Everson Costa, supervisor técnico do DIEESE no Pará, falou sobre os impactos desse reajuste, a situação econômica local e as consequências para a saúde pública.
Confira os principais pontos:
- O que esse aumento nos preços dos medicamentos significa para a classe trabalhadora, especialmente para os pacientes que dependem de medicamentos de uso contínuo e que possuem menor poder aquisitivo?
“Em 2025, começamos o ano com uma pressão inflacionária muito maior do que o que vivemos anteriormente. A população, especialmente a classe trabalhadora, já estava lidando com preços elevados de alimentos, serviços como educação, saúde e, agora, os medicamentos. O aumento de 5,06% nos preços dos medicamentos atinge diretamente os pacientes, especialmente os de uso contínuo, que têm dificuldade para arcar com esses custos. Esse reajuste, embora amparado pela inflação e pelos custos de produção, não acompanha o aumento da renda da população”, explica o especialista
Ele destaca que o salário mínimo subiu apenas 7,5%, enquanto o custo de itens essenciais, como alimentação, saúde, medicamentos e serviços, teve aumentos muito superiores, criando uma disparidade ainda maior entre os gastos da população e seus rendimentos. “Em estados como o Pará, onde o custo de vida é elevado e a maioria da população depende de um salário mínimo, o impacto do reajuste de medicamentos é ainda mais profundo. A classe trabalhadora já enfrenta dificuldades, e esse aumento de preços torna a situação ainda mais dramática”, completa Costa.
- Qual é o impacto do aumento dos preços de medicamentos na saúde pública? Há uma tendência de a população deixar de comprar os medicamentos essenciais devido ao custo mais alto?
“Embora o reajuste esteja dentro dos parâmetros da inflação, ele será implementado em três níveis: medicamentos de alta demanda terão reajustes de até 5%, os de concorrência intermediária terão aumentos de 3,84%, e os de menor demanda, 2,5%. Isso reflete um mercado com diferentes faixas de preço. No entanto, o impacto será sentido de forma desigual. A população brasileira, que já tem histórico de automedicação, pode ser levada a buscar soluções por conta própria, o que é extremamente arriscado para a saúde”, alerta Everson Costa.
Ele explica que a automedicação, que já é uma prática comum no país, pode piorar com o aumento dos preços dos medicamentos. “Com a dificuldade de acesso a tratamentos médicos adequados, a população, principalmente a de menor renda, tende a recorrer a farmácias e a automedicação, o que pode agravar ainda mais o quadro de saúde de muitos pacientes”, aponta. Everson também faz uma crítica ao sistema de saúde pública, que apesar de ser um exemplo mundial, ainda enfrenta lacunas significativas em termos de infraestrutura, profissionais especializados e condições de atendimento.
“Esse reajuste dos medicamentos não é isolado. Ele está diretamente ligado à realidade do sistema público de saúde, que não consegue fornecer o devido suporte à população. Isso, infelizmente, leva muitas pessoas a recorrer à automedicação e, consequentemente, ao aumento de riscos à saúde pública”, conclui.
- O DIEESE tem algum estudo que mostre a evolução dos preços dos medicamentos nos últimos anos?
“Desde 2012, acompanhamos os preços dos medicamentos através da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos Brasileiro, que envolve órgãos como a Anvisa e o Ministério da Saúde. Esses reajustes têm sido regidos por parâmetros inflacionários, mas não são os únicos elementos que influenciam os custos”, explica o supervisor técnico do DIEESE.
Everson Costa ainda alerta para o aumento constante dos custos da saúde, que vai além dos medicamentos. “O que preocupa é que os reajustes dos planos de saúde, por exemplo, costumam ser muito superiores ao reajuste dos medicamentos, o que torna o custo da saúde para os trabalhadores ainda mais elevado. A população já sente esse peso no bolso, especialmente os que dependem de um salário mínimo para sobreviver”, afirma.
Ele conclui que, embora haja um controle regulatório sobre os preços dos medicamentos, a realidade dos trabalhadores brasileiros é que os reajustes de medicamentos e outros custos de saúde não estão sendo acompanhados adequadamente pela evolução salarial. Isso resulta em um aumento substancial na carga financeira das famílias, afetando sua qualidade de vida e o acesso a cuidados essenciais.