A Medicina é uma profissão milenar pois, desde sempre, o ser humano tentou tratar os males de seus semelhantes. No mundo ocidental, Hipócrates, que viveu entre 460 a 377 a. C., é considerado o Pai da Medicina. Deixou um legado ético e moral válido até hoje. Desde então, a Medicina se baseia em observar, ouvir e tocar, na busca de hipóteses diagnósticas que orientem um tratamento específico. Diagnóstico e tratamento, cerne da Medicina.
O método científico moderno tem seus fundamentos definidos no século XVII com René Descartes, com a obra Discurso do Método, que revolucionou as ciências e, na segunda metade do século XX, assistimos o desenvolvimento da Revolução Técnico-Científica-Informacional ou Terceira Revolução Industrial. Esta revolução está ligada diretamente à informática, robótica, telecomunicação, química, uso de novos materiais, biotecnologia, engenharia genética, dentre outras, que têm impactado fortemente as ciências médicas. Conhecemos cada vez mais as doenças, sua fisiopatologia. Nossos arsenais terapêuticos e diagnósticos cresceram de forma avassaladora.
Com a descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS), ampliamos enormemente nosso mercado de trabalho. Há mais e mais demanda por médicos em todos os rincões do país. Infelizmente, pioraram as condições de trabalho, a remuneração está aviltada, a maioria dos médicos não tem sequer um contrato formal de trabalho ou são obrigados a constituir pessoas jurídicas para trabalhar. Como afirma o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, “a proliferação de escolas médicas sem decência e sem docência”, coloca no mercado de trabalho profissionais médicos mal preparados. Ameaças à universalidade e integralidade do SUS levando a perda de direitos duramente conquistados. Ao invés de médicos habilitados, observamos nossos pacientes sendo atendidos intercambistas estrangeiros que não comprovaram qualificação para exercer a medicina no país.
É neste contexto que ao comemorarmos o Dia do Médico de 2016 convidamos os médicos brasileiros à reflexão. Por um lado, temos todas as condições técnico-científicas para oferecer o melhor da medicina aos nossos pacientes. Por outro, patrões públicos e privados nos negam as condições materiais para tal. Para enfrentar esse quadro temos que buscar alianças para além da corporação. Resgatar os ensinamentos de Hipócrates aprofundando a relação médico-paciente-família. Cientificismo sim, mas com doses cavalares de humanismo e amor. Valorizar a anamnese e o exame físico. Observar, ouvir, tocar e conversar.
A Federação Médica Brasileira cumprimenta os heroicos médicos brasileiros no transcurso de seu dia comemorativo e os conclama à resistência. Em defesa da nossa bela e honrada profissão. Em defesa da dignidade do exercício profissional. Em defesa da saúde de qualidade para todos. Em aliança com os nossos pacientes, seus familiares e todos os cidadãos de bem.
Waldir Araújo Cardoso, Médico Cardiologista, presidente da Federação Médica Brasileira (FMB)