85% evoluírão bem e usando só sintomáticos. Tratamento pro vírus mesmo, o único que demonstrou alguma eficácia ( Remdesivir), foi aprovado agora e não existe no Brasil.
Há carência de estudos em humanos associando uso precoce de possíveis medicamentos antivirais com desfechos associados à proteção da má evolução clínica, evoluindo para a fase de doença inflamatória, autoimune, que causa um processo tromboinflamatorio local, podendo causar insuficiência respiratória grave e óbito.
A fase em que podemos observar a má evolução acontece após a primeira semana. Nesse momento, alguns fatores de risco, sinais e sintomas clínicos apontam para a necessidade de uso de outros medicamentos em casa ou na internação hospitalar.
O uso de medicamentos experimentais foi liberado. É uma decisão médica dialogada com o paciente. O uso de antibióticos precocemente não é usado pra “tratar” o vírus. E sim a possibilidade de infecção bacteriana, o que poderia contribuir para agravamento do quadro.
Sabemos que as formas graves (onde há evolução para doença com insuficiência respiratória) não são possíveis de prever quem as desenvolverá. A obesidade, mesmo em jovens e outras comorbidades parecem contribuir para isso, além de fatores imunogenéticos ainda fora do controle da ciência.
Disseminar a ideia de que se pode adoecer pois existe medicação eficaz é irresponsabilidade!! Evitar adoecer é a melhor estratégia num cenário de pandemia de uma doença complexa que pode evoluir com necessidade de suporte crítico que o serviço de saúde não consegue oferecer, pois não tem número de leitos de UTI.
E UTI não se cria da noite pro dia com prédios, nem mesmo com dinheiro!! Os chineses e os ricos criam por terem outras condições!!!! Mesmo assim, há muitas mortes nos sistemas colapsados mesmo na Europa e EUA.
Alguns pacientes podem evoluir sem a forma grave, que necessita precocemente de tratamento Intensivo. Porém podem evoluir de uma mas de forma arrastada, prolongando reações inflamatórias no próprio pulmão e em outros órgãos e possibilitando complicações. Como, por exemplo, quadros gastrointestinais e neuropatias. Principalmente após 50 anos de idade.
Ainda não sabemos também as consequências de sequelas ao longo do tempo, desses pacientes que fazem forma moderada a grave, no tocante ao pulmão ou outros órgãos.
Ainda não temos conclusões definitivas quanto ao desenvolvimento de imunidade, tempo de proteção, nem testes laboratoriais bem acurados e disponíveis pra tal avaliação.
É necessário entender que embora a medicina utilize evidências científicas para tomadas de decisão clínica, cada indivíduo apresenta um repertório de características que determinam sua reação à agentes infecciosos e outras patologias. Cada um evolui de uma maneira e, portanto, não dá pra fazer “pacote da COVID” distribuindo medicações inóquas ou com possibilidade de dano, sem que se veja o caso do paciente. Vejam que 85% evoluirão bem independente do uso de qualquer medicamento. Por que usar para todos medicamentos que podem causar mal?
Mesmo em tempos de pandemia, não podemos tratar da mesma maneira como se fossem todos iguais.
Sabemos que é uma doença nova, embora mutação de um vírus conhecido. Tem uma capacidade de transmissão altíssima e uma capacidade de causar danos terríveis no organismo humano que enfrenta um inimigo novo! Os que evoluem com formas graves tem alto risco de morrer.
Quando transformamos isso em números percebemos que por ter um número enorme de pessoas adoecendo, o risco de morrer sem atendimento adequado é muito grande. E mesmo com atendimento adequado!!!
Lamentavelmente, mesmo em tempos não pandêmicos a Amazônia enfrenta endemias e outros agravos sem ter estrutura de saúde. Há muitos os profissionais da saúde dizem isso, trabalhando em péssimas condições. A pandemia, mesmo com o implemento de número de leitos, hospitais de campanha etc , só confirma nossa condição de cronicamente excluídos e negligenciados. Populações imensas invisíveis e negligenciadas ao entorno de cidades grandes, rios e florestas. Negligenciadas pelo poder público, mas sobretudo por toda sociedade, que não se importa com elas.
Agora serão visíveis na mídia como caixões anônimos. E só serão vistos porque a doença atinge qualquer humano independente da condição social. Aliás, precisa lembrar que quem trouxe a doença foram aqueles que não abriram mão de suas férias na Europa e Estados Unidos. Cujos aeroportos de entrada não fizeram vigilância pois a retórica do presidente foi irresponsável e genocida!!
Não temos dados suficientes para planejar e enfrentar a pandemia!
Não testamos o suficiente no início da pandemia pra traçar ações. O discurso de “ gripezinha” e “o sol vai agir” convenceu nos ministérios e na população…
Temos muitos mais doentes do que sabemos, temos muito mais doentes disseminando, teremos ainda mais doentes e doentes graves nos próximos dias.
Os casos estão acontecendo e agora as pessoas estão tentando só procurar o serviço de saúde se tiverem sinais… isso na capital trouxe aparamente mais calma, mas não temos ainda resultado do lockdown, e ainda não chegamos na taxa necessária de isolamento pra gerar impactos benéficos!
Enquanto isso, a periferização, a pauperização e interiorização aumentam prevendo um caos de estraçalhar os corações Amazônidas!
Não vou me deter neste post aos fatores sociais, culturais e territoriais tão peculiares na Amazônia e que interferem pro comportamento da pandemia.
Mas acho que no cenário posto, cada cidadão deve se informar antes de emitir “opinião” !
A ciência nos ajudou a atravessar epidemias, endemias e outros agravos…
A epidemiologia e a medicina tem suportes sólidos! A medicina centrada na pessoa mostra-se necessária mesmo em pandemia!!
A inovação possível com recursos tecnológicos com teleconsultas e orientações tem se mostrado uma possibilidade. A orientação aos profissionais de saúde em áreas distantes é possível! É necessário inovação, ciência e, sobretudo, solidariedade!
Não deixem o desespero ou egocentrismo disseminar “achismo medicamentoso ou de controle da pandemia “ ou “ está tudo bem, o sol brilha para todos”
Não brilha para populações que passam fome, pras que são cronicamente invisíveis e vulneráveis.
Não podemos compactuar com irresponsáveis!
Cada cidadão deve se informar e pautar suas opiniões em boa mídia ou artigos e consultores da área! Mesmo em pandemia, os abutres querem carniça! Mentem e inflam seus egos!
Não tem teste para todos, não sabemos real cenário (mas 138 dos 144 municípios do Pará já registraram casos) Não existe vacina, não existe tratamento eficaz em nenhuma fase da doença, um grande percentual de indivíduos necessitarão de suporte e não terão, teremos mais adoecimento e morte.
Esperança?
Sim!!
Fique em casa, incentive isolamento social, não dê opinião infundada baseada no seu achismo, não fique tendo pití achando que agora você descobriu que queria as UTIs da Alemanha. Não seja egocêntrico pois o vírus quer a todos! Procure sair melhor depois disso, então seja solidário, ajude a humanidade a não morrer e entenda que o ser humano vive num planeta com outros seres vivos e destruí-lo gera desequilíbrio e novas doenças. Aprenda a respeitar diferenças e territórios! Não compare Brasil com Suécia, muito menos Amazônia com a Alemanha.
Respeite e honre os profissionais de saúde que estão morrendo por você.
Limpe suas próprias coisas, trabalhe em casa, mude estilo, aproveite para ser mais humano!
Faça sua parte e vamos lutar juntos!!
Vai passar!!
Mas vamos tentar diminuir a dor do mundo!!
Marília Brasil Xavier
Médica dermatologista e infectologista
Professora e pesquisadora Ufpa e Uepa
17.05.2020