Teste utilizado vai detectar antígenos – as proteínas do novo coronavírus (Sars-CoV-2) – e deverá mostrar resultados em 15 a 30 minutos, segundo a entidade, que também pontuou 4 situações para o uso dos exames.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou, nesta segunda-feira (28), que vai disponibilizar 120 milhões de testes de Covid-19 para 133 países de baixa e média renda em um período de seis meses. A OMS disse que os testes serão oferecidos no Brasil e em outros países na América Latina.
Os testes usados serão os de antígenos, aqueles capazes de identificar as proteínas da superfície do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Eles deverão mostrar resultados em 15 a 30 minutos, segundo a OMS. A entidade pontuou 4 situações em que o uso dos exames pode ser particularmente útil:
- Para responder a suspeitas de surtos em locais remotos.
- Para investigar grupos (os chamados “clusters”) nos quais há suspeita de surtos.
- Para testar populações que têm maior exposição ao vírus, como os profissionais de saúde da linha de frente ou os trabalhadores essenciais. Os testes poderão ajudar a monitorar, com resultados rápidos, se eles foram infectados.
- Para testagem em locais com transmissão comunitária disseminada – para saber onde está o vírus e quem está infectado com ele.
Segundo a líder técnica para a Covid-19 da OMS, Maria van Kerkhove, os testes de antígenos funcionam melhor quando o paciente tem uma alta quantidade de vírus (carga viral) no corpo – 2 dias antes do início dos sintomas até 5 a 7 dias depois da apresentação deles.
Antígenos x PCR x testes de anticorpos
Van Kerkhove explicou que os testes podem ser usados de forma conjunta com os do tipo PCR, que detectam o material genético do vírus em uma amostra.
Assim como os testes PCR, os testes de antígenos identificam o vírus diretamente, porque detectam proteínas específicas que ele produz e que aparecem na superfície dele.
Os testes PCR, entretanto, podem levar tempo até apresentarem os resultados – porque precisam ser levados a um laboratório e analisados, o que pode demorar dias, lembrou a líder técnica. Já os testes de antígenos não precisam de um laboratório.
“Muitos países não têm acesso a um resultado rápido de amostras de PCR”, disse van Kerkhove. “As amostras precisam ser levadas a um laboratório, e pode levar horas ou dias para chegarem. Os testes de antígeno podem ser muito úteis, e são feitos ao lado do indivíduo”, esclareceu a técnica.
Ela também pontuou que, apesar de os testes não serem “perfeitos”, muitos estão funcionando bem em questão de sensibilidade (capacidade de identificar os pacientes infectados com o vírus) e especificidade (capacidade de identificar os pacientes que não estão infectados com aquele vírus).
Os mecanismos dos testes de antígenos e dos testes PCR são diferentes dos testes de anticorpos – que identificam, como o nome diz, os anticorpos que o corpo produziu contra o Sars-CoV-2. Esses tipos de teste também são considerados “testes rápidos”, e têm sido usados amplamente no Brasil.
No entanto, como os anticorpos demoram um tempo até serem criados pelo corpo, os testes que os detectam não são ideais para fazer o diagnóstico da doença – porque uma pessoa pode estar infectada e, no entanto, receber um resultado negativo (porque, apesar de ter o vírus no corpo, ainda não criou os anticorpos).
Os testes de anticorpos são úteis, entretanto, para estudos epidemiológicos – que estimam, por exemplo, quantas pessoas em um determinado local já tiveram contato com o vírus e já desenvolveram anticorpos para ele. No Brasil, isso vem sendo feito pela EpiCovid, análise nacional que é liderada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul.
Distribuição
Os testes serão fabricados pelas empresas SD Biosensor e Abbot, e o volume será garantido por meio da Fundação Bill e Melinda Gates. Cada teste custará US$ 5, cerca de R$ 28.
O Fundo Global, uma parceria internacional de financiamento em saúde, irá contribuir, inicialmente, com US$ 50 milhões para a iniciativa (cerca de R$ 283 milhões), retirados do mecanismo de apoio à Covid-19. Segundo Catharina Bohme, diretora da Fundação para Novos Diagnósticos Inovadores (FIND, na sigla em inglês), da OMS, a verba permitirá aos países comprar, pelo menos, 10 milhões de testes. As primeiras compras serão feitas nesta semana.
De acordo com Bohme, a Unitaid, uma iniciativa de saúde global, e o Centro de Controle de Doenças da África (CDC, na sigla em inglês) vão ajudar a lançar os testes em até 20 países africanos a partir de outubro.
O diretor executivo do Fundo Global, Peter Sands, afirmou que o anúncio dos testes é “um grande passo em direção à alocação mais justa de diagnósticos”.
“Neste momento, países de alta renda estão conduzindo 292 testes por dia a cada 100 mil habitantes. Os países de renda média alta, 77 a cada 100 mil; os de média baixa, 61; e os de baixa renda, 14”, comparou.
“Eles [os testes de antígenos] não são uma bala de prata”, alertou o diretor do fundo, “mas extremamente valiosos como um complemento aos testes PCR, pois, embora sejam um pouco menos precisos, são muito mais rápidos, baratos e não requerem um laboratório”, ponderou.
Fonte: G1