“A pandemia da covid-19 provocou para a categoria médica uma tragédia particular sem precedentes no mundo contemporâneo. Como não se via desde a gripe espanhola que assolou o mundo em 1918”. A declaração é do presidente da Federação Médica Brasileira (FMB), Casemiro Reis, que chegou na quinta-feira, 14, a Belém para participar das comemorações pelos 40 anos de fundação do Sindicato dos Médicos do Pará e da posse da nova diretoria colegiada do Sindmepa, que acontece na noite do próximo sábado, 16.
Casemiro afirma que o Brasil detém o infeliz recorde mundial de maior número de médicos mortos no enfrentamento à covid-19, sem falar nos que adoeceram em função da doença e ainda sofrem com as sequelas deixadas pelo vírus. “O Brasil é o segundo país com maior número de mortos, perdendo apenas para os Estados Unidos. Mas, se levarmos em consideração que a população dos USA é 50% maior que a brasileira, proporcionalmente, pelo número de habitantes, o Brasil é o País com maior número de mortos pela covid em todo o mundo.
A FMB contabiliza cerca de 600 médicos mortos em todo o Brasil, sendo o estado do Pará um dos mais afetados, com mais de 80 mortos. Isso sem falar nos que ficaram em longo período de internação e ainda têm que conviver com sequelas significativas pulmonares, cardiovasculares, renais, e muitos ainda afastados tendo um custo alto de tratamento sem ter a retaguarda, sem ter nenhum vencimento, penalizando a família. Em função da doença, famílias de médicos empobreceram consideravelmente nesse período, outra tragédia particular enfrentada pela categoria.
Na análise de Casemiro, o cenário do trabalho médico piorou acentuadamente com a pandemia. “O que já não era uma situação muito boa, ficou ainda pior no País”, destacou. Entre as causas do que chama de precarização dos vínculos trabalhistas dos médicos, Casemiro relacionou a pejotização, ou seja, obrigatoriedade de criação de Pessoa Jurídica pelos médicos, que começou com as Organizações Sociais (OSs) e depois avançou com as pejotizações individuais. “Nesse cenário, o médico presta serviço para várias empresas, ficando sem nenhum direito trabalhista, o que se agravou profundamente com a chegada da pandemia”.
Em mais de 37 anos de formado, Casemiro classifica o cenário atual como o pior que já presenciou na categoria médica. “Um cenário de guerra, de absoluta falta de equipamentos mínimos para trabalhar. Não estamos falando de falta de respiradores, tomógrafos, aparelhos de alta complexidade, mas de luvas, máscaras, aventais, de equipamentos básicos de proteção dos médicos e demais profissionais de saúde”.
Sobre o Dia do Médico, Casemiro afirma que, infelizmente nesse dia 18 de outubro “a gente continua sonhando com um dia do médico de confraternização, de festividade, mas será um dia do médico de muita indignação por parte da categoria médica, de muito protesto por todo o cenário que enfrentamos”.
Mas apesar da pandemia, o presidente da FMB parabeniza os médicos “estão todos de parabéns porque, corajosamente, se levantavam todos os dias, saíam para o trabalho enfrentando a covid-19 com muita coragem, correndo o risco de adoecer e ainda de trazer a doença pra dentro das suas casas e comprometer os familiares, mas em nenhum momento a categoria esmoreceu e seguiu firmemente no combate à covid-19. Estou muito orgulhoso de ser médico, muito orgulhoso da minha categoria pela coragem, ousadia e determinação como enfrentou e vem enfrentando a covid-19”, disse.
40 ANOS
O presidente da FMB parabenizou o Sindmepa pelos 40 anos de fundado e a nova diretoria eleita, destacando que houve um reconhecimento do trabalho do grupo que venceu as últimas eleições. “É um grupo que vem se renovando ao longo da sua história. Houve quase 50% de renovação dessa nova diretoria, que já vinha se renovando em eleições anteriores”, ressaltou.
Ele também destacou que um dos motivos pela sua presença no Pará é que também foi aqui que a FMB foi fundada em um congresso realizado em 2015, onde foi eleito também o primeiro presidente da Federação, o médico paraense Waldir Cardoso, que teve o trabalho de estruturar a Federação no primeiro mandato.
Casemiro é o segundo presidente da Federação, estando em um processo de consolidação da Federação, cuja presidência vai para Pernambuco. As eleições serão no dia 5 de novembro e a nova diretoria da FMB tomará posse no próximo dia 27. A expectativa é de que haja um aumento significativo no número de sindicatos associados. “Se hoje a FMB já representa, seguramente, 50% dos médicos brasileiros, em breve, vamos atingir cerca de 70% da categoria”.