Março é considerado o mês de conscientização e reforço dos cuidados contra o câncer de colo do útero, o segundo com maior incidência entre as mulheres do Pará, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Um levantamento do Inca estima que 1.980 novos casos sejam registrados na região Norte do Brasil até o fim deste ano, sendo 830 só no Pará. Os números preocupam, pois a neoplasia maligna pode ser evitada em 100% dos casos quando as lesões precursoras são detectadas e tratadas precocemente. O acesso aos serviços de saúde e a conscientização sobre a importância dos exames preventivos são fundamentais para reduzir esses índices. No entanto, o rastreamento depende da demanda espontânea, ou seja, a decisão de realizar o exame preventivo cabe à própria paciente, tornando ainda mais necessário o incentivo à sua realização.
Também conhecida como câncer cervical, a doença é causada por uma infecção persistente pelos tipos 16 e 18 do Papilomavírus Humano (HPV), considerados oncogênicos e de transmissão sexual. Quando não tratado a tempo, pode evoluir para sintomas graves, como sangramento vaginal irregular, corrimento com odor desagradável, dor pélvica persistente e dor durante a relação sexual.
A oncoginecologista do HOL, Ellen Ribeiro, alerta que o cuidado com a saúde ginecológica deve começar desde a primeira relação sexual. “A consulta ginecológica regular é essencial para a prevenção, pois os tumores ou lesões pré-cancerígenas costumam ser assintomáticos no início. Exames como o Papanicolau e a colposcopia são fundamentais para o diagnóstico precoce, mesmo quando não há sintomas”, destaca.
Silencioso, o câncer do colo do útero se origina de células que crescem de forma desordenada e podem se espalhar para outros órgãos, causando metástase. “O exame preventivo deve ser realizado preferencialmente antes do surgimento dos sintomas e, idealmente, uma vez ao ano por mulheres entre 25 e 64 anos que tenham vida sexual ativa. Infelizmente, muitas nunca fizeram esse exame”, alerta a especialista.
A cabeleireira Diene da Cunha, de 35 anos, é uma das pacientes do HOL e admite que negligenciou sua saúde ginecológica. Diagnosticada com câncer de colo do útero em 2023, passou recentemente por uma histerectomia. “Tive sangramento e dores intensas durante a relação sexual, mas evitava os exames por vergonha. Hoje me arrependo profundamente. Se tivesse seguido as orientações médicas, não estaria enfrentando tantas cicatrizes e limitações. O que mais me dói é saber que nunca mais poderei gerar um filho”, desabafa.
Nos estágios iniciais, o tratamento cirúrgico contra a doença pode ser curativo. Caso a paciente deseje preservar a fertilidade, há opções de cirurgia conservadora. Em casos mais avançados, os sintomas podem incluir dificuldades para urinar, dor lombar, inchaço nas pernas, fadiga extrema e perda de peso sem causa aparente. Nesses casos, o tratamento envolve radioterapia e, em algumas situações, quimioterapia.
Moradora de Marabá, no sudeste paraense, Maria Valente, de 61 anos, só descobriu a doença após cinco anos sem fazer o exame preventivo. “Comecei a menstruar novamente do nada e senti dores. Isso me assustou, então procurei um médico e fui diagnosticada. Hoje estou em tratamento, mas com esperança de cura. No SUS, estou sendo bem cuidada e acolhida”, relata.
Além do HPV, outros fatores de risco para o câncer de colo do útero incluem o início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros, baixa imunidade, tabagismo e uso prolongado de anticoncepcionais. “O uso do preservativo em todas as relações sexuais é essencial, assim como a vacinação contra o HPV para meninas e meninos de 9 a 14 anos, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde”, reforça Ellen Ribeiro.
Fonte: Agência Pará