Começou este mês a implementação do projeto piloto que irá tornar o Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), da Universidade Federal do Pará (UFPA), o 1º Centro de Referência de Tratamento da Obesidade Infantojuvenil do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Segundo Adriano Reis, nutricionista do Bettina, o Serviço de Nutrição realiza triagem das crianças que estão obesas no Serviço de Crescimento e Desenvolvimento Caminhar para iniciar o atendimento multiprofissional. O projeto acontece em parceria com a Faculdade de Nutrição da UFPA.
De janeiro de 2013 a fevereiro deste ano, o Programa de Assistência à Criança, de 0 a 5 anos, com Desnutrição Primária, coordenado pela nutricionista Rosalba Velasco, do HUBFS, realizou avaliação nutricional de 296 pacientes, entre crianças e adolescentes do Caminhar. Do total, 35,6% eram do gênero feminino enquanto 64,4% pertenciam ao masculino. O diagnóstico nutricional apontou que estavam com baixo peso 44 dos pacientes (14,8%); risco para baixo peso, 45 (15,2%); normal, 126 (42,7%); obesidade, 51 (17,2%) e sobrepeso, 30 (10,1%).
“As crianças vão receber atendimento clínico no consultório de Nutrição do Bettina e as atividades de físicas ocorrerão na Faculdade de Educação Física da UFPA. A expectativa é ampliar o projeto ao público, encaminhado pelas Unidades Municipais de Saúde, a partir do segundo semestre deste ano”, afirma Adriano Reis.
Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que mais de 30 milhões de crianças com excesso de peso vivem em países em desenvolvimento. Entretanto, no Pará, não há dado estatístico focado no público infantojuvenil. Na visão de Ana Paula Pereira, professora do curso de Nutrição da UFPA, esse é um problema e está relacionado à carência de recursos para realização de pesquisas de grande porte e à cultura da população em não reconhecer a obesidade como um problema de saúde.
Serviço nutricional – Além de o fato de as pesquisas nacionais apontarem aumento no crescimento de brasileiros com sobrepeso ou obesas, outro motivo que levou o Bettina Ferro a interessar-se em contribuir para o controle do problema – no campo da assistência, do ensino, da pesquisa e da extensão – foi devido a realização do Programa de Assistência à Criança, de 0 a 5 anos, com Desnutrição Primária, que atende todos os dias, pela manhã, crianças do Caminhar.
Caminhar – O Caminhar existe há 13 anos e objetiva diagnosticar e realizar acompanhamento clínico em crianças que apresentem alterações de crescimento e desenvolvimento infantil, síndromes genéticas, epilepsias, ataxias e mucopolissacaridoses. Atualmente, cerca de quatro mil meninos e meninas são atendidos em seis laboratórios pela equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos, pediatras, nutricionista, assistentes sociais, enfermeira, fisioterapeuta, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional, neuropediatras e homeopata. Todos os anos, em média, 16 mil crianças recebem atendimento.
Mais serviços nutricionais – Além do programa, o Serviço de Nutrição do HUBFS realiza o projeto de “Adequação do Perfil Nutricional dos Trabalhadores do HUBFS”, que existe há cinco anos no hospital e atende também aos pacientes do Bettina (demanda interna) com distúrbios nutricionais. Existe também o projeto sobre “Distúrbios Nutricionais”, que tem à frente a nutricionista Janete Conceição, que atende pacientes em geral do SUS, de 18 a 59 anos, que apresentam sobrepeso, obesidade e desnutrição. Mais informações sobre os serviços: 91 – 3201 7816.
Grupo de trabalho – Segundo Ana Brito, coordenadora do Núcleo de Planejamento do Bettina, a proposta de criação do Centro surgiu devido às dificuldades de assistência do SUS em Belém às pessoas com obesidade grave, sobretudo, no nível de média complexidade porque esta não é garantida pelo SUS. “A discussão iniciou no GT do Centro por entender que a universidade pode colaborar com o controle da doença e seus agravantes, uma vez que a UFPA dispõe de profissionais que atuam em diversas áreas de conhecimento, de unidades hospitalares e faculdades como a de Nutrição, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Educação Física, da Endocrinologia e outras. O resultado foi a criação de um serviço que vai além da nutrição e fundamentado na etiologia de base da obesidade para entendermos os diversos fatores que levaram o indivíduo ao sobrepeso ou à obesidade”, afirma Ana Brito.
Texto: Cleide Magalhães – Ascom/HUBFS/UFPA
Fotos: Arquivo Ascom/HUBFS/UFPA.