O Sindicato dos Médicos do Estado do Pará, como tradicionalmente faz nas Conferências de Saúde em que participa, apresenta um documento sobre a análise da saúde para oferecer à reflexão dos Delegados participantes da XI Conferência Municipal de Saúde e contribuir para os debates e propostas desta Conferência.
Nos últimos tempos houve grandes avanços: melhora da qualidade de vida e aumento da longevidade; desenvolvimento e melhoria no acesso de medicamentos; mudança de estilo de vida e garantias sociais, que variam muito com as regiões e classes de renda (caracterizando a extrema desigualdade da situação brasileira, é um principio de justiça tratar desigualmente os desiguais como forma de combater as desigualdades e corrigir os desequilíbrios); a redução da taxa de mortalidade infantil; redução da desnutrição infantil e adulto, também variando com as regiões e classes de renda, controle de doenças imunopreviníveis, devido ao Programa Nacional de Imunização e transplantes no setor público.
Uma mudança radical do modelo de atenção à saúde envolve não apenas priorizar a atenção primária e retirar do centro do modelo o papel do hospital e das especialidades, mas, principalmente concentrar-se no usuário-cidadão como um ser humano integral, abandonando a fragmentação do cuidado que transforma as pessoas em órgãos, sistemas ou pedaços de gentes doentes.
Medidas voltadas para a formação, a educação permanente e a fixação das equipes de profissionais da saúde com base nas necessidades e direitos da população têm papel crucial na implementação do conjunto dos princípios e diretrizes do SUS e do novo modelo de atenção à saúde e de gestão.
Nestes últimos dez anos este município experimentou um verdadeiro desmonte de sua estrutura de saúde, desde a atenção de baixa complexidade (primária), até a alta complexidade (terciária), desorganização e falta de resolutividade das unidades de U/E, dificuldade no atendimento especializado e precária atenção na internação hospitalar, instalando-se um verdadeiro caos na saúde municipal, demonstrado pela contínua mudança de secretários municipais.
Há a clara necessidade de uma reestruturação geral da saúde no município, com criação de uma rede de atenção à saúde que contemple a atenção integral do cidadão com ações de atenção primária (básica), ações de atenção secundária e terciária. Tem-se também de priorizar a atenção básica, focando na promoção e proteção à saúde e prevenção de doenças por meio de ações educativas. Discutir a situação de violência no município como um dos problemas mais graves da saúde pública com ênfase na cultura da paz e educação para o trânsito. Temos que sair do regime de improvisação, falta de planejamento e incompetência de gestão, da desvalorização do trabalhador que experimenta congelamento há mais de 10 anos das gratificações que compõem a maioria da remuneração e não tem nenhuma política de educação continuada.
O governo atual, apesar de ter eleito a saúde como uma de suas prioridades e haver experimentado um incremento no Estratégia Saúde da Família, não refletiu na qualidade do atendimento e com as mudanças frequentes de secretários municipais de saúde demonstra a desorganização nesta área, sem falar no saneamento básico em que Belém não tem nem em 10% de seus domicílios e agora nos deparamos com a falta de segurança nos locais de trabalho ou em suas imediações, colocando em risco a vida do trabalhador.
PROPOSTAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS
a) VALORIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DE SAÚDE
- Maior valorização do Servidor Municipal com humanização, melhoria de salários e condições de trabalho, concurso público e implantação do PCCR específico para a área de saúde com a maior brevidade;
- Assegurar capacitação e educação continuada aos trabalhadores de saúde.
- Garantir o atendimento integral de atenção à saúde do trabalhador em todas as unidades de saúde gerenciadas pelo município com equipe multiprofissional, com expansão do programa de saúde do trabalhador.
- Funcionamento regular das mesas de negociação salarial específica com a SESMA e Geral com a Prefeitura.
b) ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (BAIXA COMPLEXIDADE)
- Expansão da Estratégia Saúde da Família com melhoria salarial e das condições de trabalho, realizando concurso público para regularização funcional;
- Definir especial atenção ao atendimento da mulher, do homem, da criança e do idoso a fim de cumprir o preceito da equidade no SUS e baixar os índices de morbimortalidade materna, infantil e neonatal;
- Expandir a política de saúde bucal com ênfase na promoção e prevenção, com implantação de CEO´S de acordo com a política nacional;
- Cumprimento da lei federal que estabelece diretrizes nacionais para saneamento básico;
- Implementação urgente do Cartão SUS, que vai permitir saber realmente a origem dos pacientes atendidos, permitindo uma melhor pactuação na PPI e um planejamento adequado no atendimento em geral e na quantidade adequada de leitos necessários para evitar a fila de espera de pacientes nos dois hospitais municipais e pior ainda no domicílio com muitos morrendo sem conseguir internar;
- Efetivar a politica de saúde da mulher, com recursos humanos, materiais e insumos e instalações adequadas, criação do Comitê de Mortalidade Materno-Infantil no município, implementação da lei federal sobre os direitos à vinculação a uma maternidade durante o pré-natal e de escolha do acompanhante no parto e pós-parto e cumprimento da norma de atenção à saúde das mulheres vítimas de violência.
c) MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE
- Reorganização do Serviço de Urgência/Emergência, equipando melhor as Unidades dos Bairros, melhoria e manutenção das instalações, materiais, equipamentos de todas as unidades, principalmente os Hospitais, triagem nos HPSM’S, pois certamente 70% dos atendimentos realizados neste Hospital são casos ambulatoriais ou atendimentos de urgências de pequenas complexidades que deveriam estar sendo atendidos nas Unidades Municipais Básicas;
- Manter os hospitais de Pronto Socorro municipais na sua principal finalidade que é de atendimentos dos casos de média e alta complexidade, o que certamente melhoraria a qualidade do serviço e um melhor atendimento aos que correm realmente risco de morte;
- Prover retaguarda de leitos suficientes para transferir os pacientes dos Pronto Socorros Municipais, após o atendimento de Urgência/Emergência e ampliar a oferta de leitos nas clínicas básicas e especializadas;
- Expansão do Programa Saúde em Casa, com atendimento inclusive dos pacientes que ficam aguardando leitos em sua residência;
- Reestruturação do SAMU com expansão dos serviços hoje prestados;
- Garantir atendimento agilizado e em número suficiente nas consultas ambulatoriais especializadas e cirurgias eletivas;
- Construção de Hospital Materno Infantil com atendimento integral à saúde da mulher e do neonato.
d) CONTROLE SOCIAL
- Autonomia administrativa e financeira do Conselho Municipal de Saúde;
- Realizar prestação de contas quadrimestrais dos gastos de saúde em audiência ao Conselho Municipal de saúde e Câmara Municipal obedecendo à lei federal;
- Elaborar cartilha de direitos do usuário do SUS com ampla divulgação a sociedade;
- Discussão exaustiva com o Conselho Municipal de Saúde, sobre construção ou abertura de novas unidades, pois no momento precisamos reorganizar e melhorar o atendimento das existentes;
- Realizar encontros de discussão entre o Conselho Municipal de Saúde de Belém e o Conselho Estadual nos temas de interesse comum, para melhorar o atendimento em todos os municípios deste Estado.
e) FINANCIAMENTO DO SUS
- Lutar pela destinação para a saúde de 10% do orçamento bruto da União;
- Instituir fóruns municipais para melhor conhecer os mecanismos de financiamento do SUS, bem como discutir a construção e acompanhamento do orçamento;
- Lutar pela destinação de verbas em valores diferenciados para os estados da região Norte (fator amazônico);
- Buscar em conjunto com o Governo do Estado, melhorar os recursos financeiros, que é um dos menores per capita do país, pois é sabido que o deficiente atendimento nos municípios acarreta uma demanda maior ao Município de Belém;
- Que as verbas disponíveis para a Saúde tenham como prioridade a melhoria do atendimento na atenção básica, lócus privilegiado para realizar a integralidade das ações e resolver 80% dos casos de doença.
f) GESTÃO NO SUS
- Posicionar-se de forma contundente contra o uso das OS´s, OSCIP’s, e qualquer tipo de privatização e terceirização, impedindo que estas organizações atuem nos serviços públicos de saúde em nosso município;
- Lutar pela qualificação da gestão no SUS, recomendando que os gestores comprovem formação em gestão de saúde e tenham um mínimo de formação sobre o SUS;
- Defender a aprovação do projeto de lei sobre “Responsabilidade Sanitária”;
- Implementar política de qualificação aos profissionais de saúde para melhorar a gestão;
Diretoria Colegiada