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Relatório de vistoria ao Hospital Universitário João de Barros Barreto

Relatório de vistoria realizada pela equipe de médicos diretores do Sindicato dos Médicos do Pará no Hospital Universitário João de Barros Barreto no dia 17 de julho de 2019.

 

Visitamos a unidade de sistema respiratório, enfermaria de pneumologia, setor de pediatria e unidade de terapia intensiva. O hospital é gerenciado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Observa-se que o hospital é velho e bastante deteriorado com Claros sinais de falta de manutenção. No setor de Clínica Médica, enfermarias masculina e feminina, os pisos estão deteriorados, quebrados, e não há um simples ventilador fazendo com que os pacientes sofram com o intenso calor. Muitas macas deterioradas, poltronas de acompanhantes rasgadas ou destruídas. Luminárias danificadas nas enfermarias e corredores deixando o ambiente escuro, à noite. Sanitários para pacientes sem suporte para idosos e adaptação para cadeirantes, absolutamente fora do padrão técnico. Indisponibilidade de aparelho desfibrilador funcionando em toda a clínica médica. Esta enfermaria possui, no total, 42 leitos dos quais apenas 12 estão em operação.

A Unidade de Terapia Intensiva de adultos dispõe de 10 leitos, pouco mais da metade está em uso. Cinco leitos são utilizados para a internação de pacientes e um sexto é utilizado para nefrologia, para realização de hemodiálises. Já os outros quatro leitos, dois não estão funcionando por conta de goteiras e os demais por falta de equipamentos necessários para mantê-los, pois não há monitores e respiradores suficientes para todos. Há desabastecimento constante de insumos e medicamentos.

Na Unidade de pediatria, dos equipamentos não disponíveis ressaltamos o fluxômetro para a rede de gases; válvula reguladora para cilindro de oxigênio; tábuas para reanimação. Não há número suficiente dos seguintes itens: máscaras de Venturi; aparelhos de PA; monitor multiparamétrico; oxímetro de pulso infantil; ambú e máscaras de ventilação; bombas de infusão e aparelhos de ventilação mecânica.  Há apenas um banheiro disponível para pacientes e acompanhantes.

O serviço de saúde do trabalhador está localizado em local muito ruim, improvisado, com forte cheiro de mofo, onde trabalham duas médicas.

Na unidade de sistema respiratório e enfermaria de pneumologia um dos principais problemas relatados pela equipe que nos recebeu, como de resto em todo o hospital, é a falta de continuidade do tratamento com antibióticos de terceira linha. A equipe médica não está recebendo encaminhamento formal e oficial de falta desses medicamentos para continuação de tratamento de pacientes graves, como pacientes portadores de infecção do parênquima pulmonar e cavidade pleural ou com sepses, cujo protocolo fica prejudicado pelas lacunas em seu segmento. Apesar desses desabastecimentos reincidentes as internações continuam acontecendo, inclusive sem obedecer uma regulamentação adequada.

A falta de regulação adequada não permite ao hospital um planejamento estratégico efetivo para que os pacientes possam ser tratados de forma correta do início ao fim do período de internação. Os pacientes que necessitam de escalonamento de antibiótico continuam padecendo com a falta periódica do medicamento.

Outra queixa da equipe é o uso informal de Whatsapp para o comunicado de desabastecimentos e outras informações cruciais para o bom andamento do serviço. Segundo a RDC, programa Nacional de segurança do paciente do Ministério da Saúde, é necessário que haja normas, procedimentos e rotinas técnicas de todos os seus processos de trabalho, que são fundamentais em qualificação, humanização de atenção, redução e controle dos riscos ao usuário. Tudo isso para garantir o bom atendimento do paciente. No Barros Barreto infelizmente as coisas são feitas de maneira informal por meio de Whatsapp, o que tem gerado desconforto. Até porque esses procedimentos, por não serem oficiais, não geram responsabilização.

Entre os insumos apontados em falta rotineira estão desde luvas estéreis para procedimentos médicos, intracath, clexane, até pantoprazol para proteção gástrica, isso somado aos antibióticos. Foi falado também que procedimentos médicos rotineiros como uma dissecção de veia em crianças são feitos com instrumentos de adulto, pois o hospital não dispõe de instrumental de cirurgia infantil, muitas vezes faltam até capotes estéreis. Quando os pacientes pediátricos precisam de tratamento intensivo são internados na UTI adulto, pois o hospital não conta com UTI pediátrica.

Em função da dificuldade de responsabilização pelas informações, a unidade de enfermagem criou um livro próprio onde são informados quando não há medicamento ou insumo. Infelizmente a maioria das informações contidas no livro não são assinadas e por isso são assinaladas com a abreviação “NH” (não há), sem a devida assinatura. Existe também uma inconsistência entre as informações da CCIH e a informação da farmácia. Quando a CCIH orienta para o uso de determinado antibiótico que está disponível no hospital, a farmácia informa que o medicamento acabou ou que só atende um determinado número de pacientes, não podendo atender a todos.

Outro fato grave é a falta de frascos para coleta de escarro. Ou seja, um hospital de referência secundário e terciário em tuberculose não está podendo fazer cultura para o Bacilo de Koch. Informaram também que faltava AAS, usado para aqueles pacientes com isquemias e problemas cardíacos.

O hospital não dispõe de ala para cuidados semi intensivos. Os pacientes que necessitam, por exemplo, de intubação oro traqueal, por insuficiência respiratória aguda, acabam sendo mantidos na enfermaria sem condições adequadas, pois não há leitos suficientes na UTI. A maioria dos pacientes intubados que não conseguem transferência para UTI vão a óbito.

Ainda temos o problema da distribuição de gases nos leitos. A RDC n° 50, prevê uma rede de gás para cada dois leitos. Ocorre que no Barros Barreto os pacientes são muito graves e isso não está sendo suficiente. Por isso, os médicos solicitaram à direção que a engenharia providenciasse a instalação, para cada leito, de uma rede de gases: oxigênio, ar comprimido e etc., e isso infelizmente não foi atendido até o momento. Segundo informações esse custo é da ordem de 60mil reais.

Diante das condições em que atuam os médicos da unidade respiratória do hospital Barros Barreto, ratificamos a necessidade que as fichas de antibióticos quando por eles preenchidas de acordo com o plano terapêutico traçado conjuntamente com a CCIH daquele hospital, sejam retornadas à unidade com carimbo e data pelas unidades dispensadoras, no caso, a farmácia, sobre os motivos da não dispensação do antibiótico quando prescrito com as devidas ações tomadas para tais correções. Isto tudo é necessário para garantir a cobrança de responsabilidades, protegendo os médicos para eventuais cobranças futuras.

Ressalte-se ainda que, se tratando de um hospital universitário, o ensino e a formação da graduação de medicina e das residências médicas a nível de pós-graduação encontram-se comprometidas pela não implantação adequada de vários protocolos de atendimento na área de pneumologia.

Segue a lista de situações que impactam nos resultados clínicos diretamente na segurança do paciente, podendo gerar ações judiciais. São elas:

  • A não aplicação de critérios mínimos de admissão aos pacientes nas unidades de internação. Suscitando necessidade de atendimento de urgência e emergência nas alas de enfermaria. Pacientes que deveriam ir para a UTI, devido à falta de disponibilidade de leitos, acabam ficando na enfermaria em condições precárias, portanto aumentando consideravelmente o índice de óbito no hospital;
  • A deficiência de leitos de UTI é outro problema, pois há a necessidade urgente da duplicação de leitos para atender os pacientes que estão na unidade respiratória. Apesar das constantes solicitações, isto não foi atendido até então;
  • Falta constante de materiais e medicamentos, principalmente antibióticos. Há frequente falta de comunicação entre a farmácia hospitalar, a central de abastecimento farmacêutico, a comissão de controle de infecções hospitalar e os médicos. Inclusive, por não ser utilizada ferramenta adequada de comunicação que permita identificação da responsabilidade de cada um;
  • Outro item importante é o protocolo de sepses que inúmeras vezes são interrompidos na sequência do tratamento antibiótico, pelos motivos aqui já expostos;
  • Por fim, a informação de disponibilidade de medicamentos e insumos vem sendo repassados, como já foi dito ao corpo clínico, por mensagens via Uma situação totalmente irregular e não aceitável do ponto se vista legal.

 

A unidade respiratória do hospital Barros Barreto possui uma capacidade instalada de 47 leitos. Estando 40 em funcionamento, mas desses 40 atualmente funcionam apenas 24, pois os demais estão bloqueados devido à falta de condições de utilização, conforme já foi pontuado neste documento.

 

Para finalizar este relatório queremos ressaltar que o hospital faz das enfermarias unidade semi intensivas. Com pacientes intubados em respiradores, usando o que dispõe de insumos para atendimento de alta complexidade. Apesar de ter se mostrado insuficiente para garantir a vida desses pacientes que não são transferidos para UTI.

 

É o relatório, s.m.j.

 

Belém(PA), 30 de julho de 2019

Dr. Wilson da Silva Machado                           Dr. Waldir Araújo Cardoso

Diretoria Colegiada                                          Diretoria Colegiada

Dr. José Martins de Miranda Neto                  Dr. Erivaldo de Jesus Abreu Pereira

Diretoria Colegiada                                             Diretoria Colegiada

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