O Sindmepa, enquanto representante legal dos médicos, tem cumprido o papel de registrar e manifestar o pesar pela perda de cada colega médico. Uma tarefa difícil e dolorosa, embora necessária e obrigatória. Mas queremos também ser o veículo de divulgação de boas notícias. A recuperação de colegas infectados é um alívio para o profissional, família e amigos. E, sobretudo, um profissional que volta ao campo de batalha para salvar mais vidas.
Assim, a partir de hoje estaremos divulgando em nosso site e redes sociais boas notícias, que mostram a recuperação de colegas que contraíram a Covid, se recuperaram da doença e se preparam para retornar ao campo de batalha ou já voltaram à linha de frente de combate à doença. é o caso da dra. Helena Brígido, infectologista que venceu a batalha contra a Covid e é a primeira a dar seu depoimento ao site.
Como era a sua rotina na frente de batalha da COVID-19 antes de se infectar?
– Eu trabalho em uma unidade de urgência e emergência, um hospital com atendimento de Covid-19 e um ambulatório especializado. O ritmo de trabalho estava muito intenso, com quantitativo de quase 100% de atendimentos de Covid-19, principalmente na urgência e emergência.
Pessoas com queixas respiratórias eram as mais frequentemente atendidas e uma aflição muito grande dos pacientes e da equipe. Plantões tensos pela possibilidade de pessoas estarem infectadas e pela magnitude que isso representa em cada família.
A média de atividades era de três plantões de 12 horas por semana com exaustiva preocupação no uso de equipamentos.
A sra. temia ser infectada?
Sim. Após cada atendimento eu retirava luva, lavava as mãos com água e sabonete líquido e, após, passava álcool em gel. Em seguida, colocava luva novamente.
Além disso, estava com gorro, máscara N95, Face Shield ou óculos de proteção, avental, propé.
Os pacientes ficavam em distanciamento da mesa de atendimento do consultório, mas era preciso se aproximar para exame físico.
Todos os pacientes estavam com máscaras. A maioria sem acompanhantes.
A cada término de consulta, havia a preocupação de ser infectada, mas era necessário prestar assistência a essas pessoas.
Como foi contrair o vírus? que sintomas a sra. teve? precisou de internação ou foi mais leve?
Iniciei o quadro clínico com febre, obstrução nasal, coriza e depois uma dor na parte posterior do tórax.
Pensei logo na possibilidade de COVID-19, diante da pandemia e pelo fato de estar com sintomas respiratórios, ainda que leves.
Após alguns dias (5 dias) realizei a coleta de swab de orofaringe, que resultou positivo.
Comecei a apresentar uma fadiga muito intensa, a ponto de não conseguir fazer o tempo de colocar água para ferver até colocar o pó do café na garrafa térmica.
A fadiga foi piorando e, no oitavo dia, a saturação de oxigênio baixou muito, pés frios, mal estar intenso. Fui para o atendimento de urgência. Ser paciente foi extremamente tenso. Fiquei em uma poltrona em um espaço com outras pessoas, idosas ou não, tossindo, com falta de ar, familiares tensos, etc. Eu estava com a mesma doença daqueles pacientes.
Fui piorando e precisei internar. Desidratei, dessaturei, me desequilibrei.
Ficou alguma lição desse episódio da vida?
Uma delas é que não se deve subestimar a possibilidade de qualquer pessoa se infectar. Todos nós estamos vulneráveis.
A possibilidade de piora clínica faz com que a gente repense que deve continuar a luta sim, mas é preciso também olhar para si e cuidar de si. Nós, Profissionais de Saúde, às vezes esquecemos disso.
É preciso também que Profissionais de Saúde tenham outros afazeres além do trabalho. É muito importante aproveitar momentos extraprofissionais, principalmente com a família.
A sra. faz alguma recomendação aos seus colegas?
Peço às equipes de saúde que não aceitem trabalhar em algum local que não haja Equipamento de Proteção Individual (EPI), que façam o uso adequado dessa estratégia na paramentação e na retirada das vestimentas, que façam testes para COVID-19 pela possibilidade de já estarem infectados e continuarem trabalhando sem saber, que possam não se desgastar tanto nos plantões, que aproveitem mais a vida.
Pretende voltar à frente de batalha?
Voltarei imediatamente, após o período necessário de recuperação, pois além de considerar que o meu trabalho é uma missão de cidadania, a população necessita ter profissionais para atendê-la.
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