Amante da literatura e da boa música, dr. Pedro Alcântara Carneiro era um ser humano “imprescindível”, como lhe adjetivou um velho amigo nas redes sociais. Gostava tanto de ler que um de seus legados é a imensa biblioteca que deixou em sua casa no município de Igarapé-Miri, onde por 30 anos atuou atendendo a população local. Os netos reconheciam de longe o bordão: “Ei, vovô!”. Era ele, chegando para visitar as crianças depois de uma temporada de plantões no interior.
Dr. Pedro Alcântara, 76 anos, faleceu em 25 de maio deste ano, um dos 41 médicos do Pará vítimas da covid 19 e que são homenageados no Memorial virtual Médicos do Pará na Covid 19, projeto do Sindicato dos Médicos do Pará feito para lembrar as vítimas da pandemia que assolou o mundo neste ano de 2020.
“Assim como foi criado um memorial virtual para homenagear as vítimas da Covid no Brasil, pensamos: porque não criar um Memorial exclusivo para homenagear os nossos médicos, que se foram combatendo a doença e salvando vidas?”, explica o diretor do Sindmepa, Waldir Cardoso, um dos apoiadores do projeto.
Foi assim que o Memorial começou a ser executado, com a contribuição de amigos e familiares das vítimas e sob a coordenação da assessoria de comunicação do Sindmepa.
“Queria falar sobre o meu avô, que sinto muitas saudades dele”, disse Julia, neta do médico Agostinho Hermes de Miranda Neto, de 70 anos, outra perda inestimável nesta pandemia.
A partida do Dr. Agostinho, aos 70 anos, foi um duro golpe para a família e os amigos, especialmente aqueles que o viam toda terça-feira no Sindmepa, onde ocupava uma das cadeiras da diretoria: “Nunca vou me recuperar da morte do Agostinho”, disse um dos colegas da diretoria. Muito sensível e dedicado, dr. Agostinho tinha vocação pela medicina e por ajudar ao próximo. Atuou como voluntário em uma creche no bairro do Tucunduba e às quartas-feiras atendia pessoas idosas em situação de vulnerabilidade na Casa do Pão, programa social da Igreja dos Capuchinhos.
Há 15 anos fazia o papel de Pôncio Pilatos na peça Paixão de Cristo, atuando no grupo de teatro Renascer, da igreja dos Capuchinhos, outra de suas paixões. “Ele era o nosso eterno Pilatos e ficará para sempre em nossa memória”, disse o amigo e também diretor do Sindmepa, Emanoel Resque.
Cláudio Antonio Figueiredo Reis era ginecologista e obstetra da Unidade de Saúde do bairro do Bengui, em Belém. Trabalhou também no hospital Anita Gerosa, em Ananindeua. Cursou Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA) e foi casado por 38 anos com Nancy Pinheiro Reis. Além da esposa, deixou os dois filhos, Gustavo e Diogo e também dois netos, Cauã e Henrique. O terceiro netinho, Théo, não vai conhecer o avô, que amava ser médico, adorava ir com a família para Mosqueiro e gostava muito de ouvir as músicas de Milton Nascimento.
A história de todos esses médicos, amados por suas famílias e amigos, está disponível no Memorial Médicos do Pará na Covid 19, no endereço http://www.memorial.sindmepa.org.br/, que entrou no ar neste sábado, 18, e vai imortalizar a memória dos médicos do Pará que se foram durante a pandemia da Covid 19.
O memorial continuará a ser alimentado com informações de amigos e da família dos médicos falecidos. O Sindmepa mantém um canal de comunicação em seu site para que as famílias que ainda não entraram em contato e desejem ter a história do seu ente querido contada no memorial, mandem fotos e textos. O link para enviar material é: http://sindmepa.org.br/memorial-sindmepa/