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Médicos alertam: uso de ivermectina contra covid-19 pode contribuir para hepatite medicamentosa

No Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, especialista diz ter motivos para acreditar que as interações envolvendo o remédio podem estar entre causas para situações de toxicidade hepática

Indicado entre os medicamentos usados para tratar precocemente a covid-19, mesmo sem comprovação de eficácia contra o coronavírus, o antiparasitário ivermectina voltou ao centro das discussões neste mês. Além de a própria fabricante, a Merck, que no Brasil opera com o nome MSD e é responsável pelo desenvolvimento deste remédio, afirmar que ele tem “nenhuma evidência” de eficácia contra a doença, o antiparasitário pode ser um dos responsáveis por episódios de hepatite medicamentosa entre pacientes com covid-19 percebidos entre médicos.

Hepatite medicamentosa é uma inflamação no fígado causada por alguma medicação ou droga. Pode ocorrer tanto como uma reação imprevisível de um tratamento realizado corretamente quanto como o resultado do uso abusivo ou do uso concomitante de várias medicações.

Um dos casos foi relatado pelo médico pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), via redes sociais. Por meio de dois posts no Twitter, ele citou a situação de um paciente com sintomas leves da doença e que acabou desenvolvendo hepatite medicamentosa por usar uma dosagem de ivermectina de 18 miligramas por dia, durante uma semana. A prescrição foi considerada equivocada por Fernandes.

“Está a um passo de precisar de um transplante de fígado. Muito triste ver uma pessoa jovem a ponto de precisar de transplante por usar uma medicação que não funciona em uma situação que não precisa de remédio algum”, escreveu na rede social.

Mesmo sem citar números, Fernando Wolff, chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, comenta ter visto, entre pacientes internados com covid-19, muitos casos de alterações hepáticas, algumas de forma acentuada. No entanto, ressalta Wolff, o uso da ivermectina em associação com outras medicações, e a lesão que o próprio coronavírus pode causar ao fígado, impedem que se possa determinar quais casos de lesão hepática foram causados especialmente pela ivermectina e quais são resultado do somatório das medicações utilizadas.

— Não posso atribuir nenhum efeito adverso hepático exclusivamente à ivermectina, justamente porque ela não tem sido usada isoladamente. Mas temos motivos para acreditar que as interações medicamentosas envolvendo a ivermectina podem estar contribuindo com alguns dos casos de toxicidade hepática que temos atendido no hospital — alerta o médico.

Nos casos mais leves de hepatite medicamentosa, podem ser percebidas apenas alterações em exames de sangue relacionados ao fígado. Já em casos mais intensos, podem surgir sintomas como perda de apetite, náusea, dor no abdômen por aumento do fígado, urina escura e icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas).

Quando o fígado apresenta dano tão intenso que deixa de exercer plenamente suas funções vitais, pode-se dizer que o paciente chegou ao quadro de insuficiência hepática. Raros casos podem evoluir com necessidade de internação em CTI e até transplante hepático.

Na maioria dos casos, o tratamento é a retirada da droga que causou a agressão e medidas de suporte. O quadro pode se complicar para indivíduos que já são portadores de doenças crônicas do fígado, como a cirrose. Essas pessoas se tornam mais suscetíveis a hepatite medicamentosa, com menor capacidade de regeneração do fígado nessas condições.

Para que serve o medicamento

Wolff destaca que a ivermectina é utilizada há algumas décadas como um eficiente antiparasitário, tanto em animais quanto em humanos. Para verminoses, aponta o especialista, usa-se uma única dose conforme o peso do paciente, o que não tem sido seguido nos chamados “tratamentos precoces”:

— Os tratamentos que temos visto, sejam preventivos ou precoces, têm sido usados por períodos prolongados, ou em doses repetidas. Sendo assim, desconhecemos quais eventos adversos podem ocorrer a partir dessa forma de uso.

Ele acrescenta a necessidade de sempre considerar que qualquer medicação tem potenciais eventos adversos.

— Mesmo assim, indicamos várias medicações quando o benefício do uso supera os riscos. Se não há qualquer benefício demonstrado com o uso da ivermectina para covid-19, qualquer risco, por menor que seja, não é justificado. Além disso, várias medicações têm sido usadas em conjunto, e as interações entre diferentes drogas sempre devem ser avaliadas no momento da prescrição. Há combinações de drogas que potencializam ou inibem umas os efeitos das outras, causando benefícios ou toxicidades que precisam ser avaliadas no momento da prescrição. Por isso, não pode haver um “kit covid”, como se a mesma receita pudesse contemplar a todos — adverte Wolff.

SBI não recomenda tratamento precoce contra covid-19

Em dezembro de 2020, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) atualizou as recomendações sobre a covid-19 e ressaltou na nota que “não recomenda tratamento farmacológico precoce para COVID-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais.

Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a COVD-19. Essa orientação da SBI está alinhada com as recomendações das seguintes sociedades médicas científicas e outros organismos sanitários nacionais e internacionais, como: Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e da Europa (ESCMID), Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde do Brasil (ANVISA).”

Conforme a SBI, na fase inicial, medicamentos sintomáticos, como analgésicos e antitérmicos, como paracetamol ou dipirona, podem ser usados para pacientes que apresentam dor ou febre.

Um balanço da plataforma Consulta Remédios apontou que o medicamento mais buscado em 2020 no Brasil foi a ivermectina, com 9,2 milhões de buscas. Um aumento de 1.201,49% em relação a 2019.

Fonte: GZH Saúde

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