O Dia Internacional da Mulher nos faz refletir sobre o cotidiano e a jornada que cada mulher tem cumprido ao longo dos anos. A data comemorativa é resultado de diversos protestos realizados por mulheres, no início do século 20 nos Estados Unidos e Europa, em busca de melhores condições de trabalhos e igualdade de direitos. Chegamos ao século 21 com vitórias, mas também com lutas inacabadas. Em meio à pandemia do novo coronavírus, nos deparamos com jornadas de trabalho dobradas, saúde fragilizada e ainda assim com motivos para seguir em frente.
Desde 1994 o Sindmepa atua em regime de diretoria colegiada, buscando manter a democracia nas decisões do sindicato e garantir a participação de todos os membros. Em sua atual diretoria, o Sindmepa conta com nove diretoras e seis delegadas sindicais. Uma delas é a dra Nástia Irina, representante do Sindmepa em Santarém, oeste do Pará, região que vem sendo duramente castigada pela pandemia. Formada pela Universidade do Estado do Pará, em 1985, dra Nástia vem defendendo firmemente os médicos e a população do município.
No dia da mulher, dra Nástia chama atenção para os problemas enfrentados no exercício da profissão. “Cada vez mais a porcentagem de mulheres é maior na categoria médica, entretanto a nossa profissão tem sofrido uma intensa desvalorização expressa nos rebaixamentos dos salários e no aumento das jornadas de trabalho”. E acrescenta, “Houve uma perda progressiva de direitos das médicas com a pejotização do trabalho médico. Com a transferência da gestão dos serviços públicos para as Organizações Sociais, o impacto foi maior nas mulheres, que perderam direitos trabalhistas históricos, a exemplo da licença maternidade.
Conciliando as jornadas de trabalho e a família na pandemia, a diretora do Sindmepa e médica Nefrologista, Veronica Costa, conta que apesar dos 24 anos de profissão nunca tinha enfrentado desafio tão grande quanto o imposto pela pandemia do novo coronavírus. “A percepção que tive de diferença no universo da mulher médica foi relativa ao cuidado com filhos menores. É bem raro homens que cuidam sozinhos dos filhos, e sem o suporte físico da escola, aulas online exigindo mais tempo de atenção e afastamento das trabalhadoras domésticas pelo isolamento da pandemia, houve uma sobrecarga maior nas atividades domésticas somada à sobrecarga do trabalho médico que ficou mais intenso”.
Apesar dos novos desafios, a diretora e médica especialista em Infectologia e Saúde Pública, Helena Brígido diz que, mesmo com a rotina de trabalho é possível conciliar os afazeres. “Dependendo da responsabilidade assumida, homens e mulheres da área médica têm as mesmas dificuldades de conciliar trabalho e organização de casa (supermercado, reformas, educação dos filhos e etc.). Para a mulher médica não é diferente: assume e dá conta dos dois laços importantes na vida”.
O Sindicato dos Médicos do Pará não poderia realizar esta homenagem sem mencionar as médicas que perderam a batalha contra a covid-19 nos últimos meses. Até o momento, o Pará perdeu 13 médicas para o vírus. Uma delas foi a médica Maria José Marinho da Silva, que faleceu na quinta-feira, 04, aos 70 anos. Dra Maria José exerceu a profissão com amor e dedicação como clínica geral, médica do trabalho e também atuou em medicina de comunidade.
E em meio ao momento desafiador que as médicas de todo o país enfrentam, a diretora do Sindmepa e médica Dermatologista e infectologista, Marília Xavier, também fez um relato sobre o momento difícil que as médicas enfrentam. “Especialmente nós, da área da saúde de forma geral, somos desafiados profundamente e não podemos nos omitir daquilo que nós escolhemos como sendo a nossa atuação, nossa profissão o nosso modo de viver”. E complementa, “No caso, especialmente, da mulher os desafios se multiplicam, porque a mulher atua em várias frentes, mas ainda é aquela responsável pela organização da própria família. Como mãe assume o papel de cuidadora e como médica assume toda essa preocupação também lá fora”.